quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Gritaram-me negra

Você já ouviu falar na Lei 11.645/08 - que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena em todas as escolas públicas e privadas, do ensino fundamental até o ensino médio? Hoje nos trazemos uma contribuição que a Mediadora de Tecnologia Educacional, Fernanda Flores, do NTE de Macaé compartilhou na página dos Mediadores de Tecnologia Educacional do RJ, no Facebook. "Me Gritaron Negra” é um poema ritmado da compositora e coreógrafa afro-peruana Victória Santa Cruz Gamarra, que tem como roteiro a narrativa de uma experiência verídica de racismo sofrida pela autora em sua infância.
O que podemos falar desse poema?
Podemos dizer lindo e profundo! A encenação é tão profunda quanto forte! É uma dura reflexão sobre a experiência de torna-se negro e negra. O retrocesso e a vitimização são os primeiros pontos seguros. Depois vamos nos recompondo, afirmando a nossa identidade, nos descobrindo, nos olhando com toda a dignidade e respeito no espelho dos outros. aprendemos a seguir, não retroceder, a olhar de cabeça erguida e lutar contra o racismo. Mandela sonhou, e acho que todos nós sonhamos com o dia em que um homem negro e, acrescento também as mulheres negras, sejam reconhecidos apenas como homens e mulheres.

Desfrute desta beleza de composição! Compartilhamos o vídeo e a letra na íntegra.



Me gritaram negra" (Victoria Santa Cruz)
Tinha sete anos apenas,
apenas sete anos,
Que sete anos!
Não chegava nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
"Por acaso sou negra?" – me disse
SIM!
"Que coisa é ser negra?"
Negra!
E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia.
Negra!
E me senti negra,
Negra!
Como eles diziam
Negra!
E retrocedi
Negra!
Como eles queriam
Negra!
E odiei meus cabelos e meus lábios grossos
e mirei apenada minha carne tostada
E retrocedi
Negra!
E retrocedi . . .
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Neeegra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
E passava o tempo,
e sempre amargurada
Continuava levando nas minhas costas
minha pesada carga
E como pesava!...
Alisei o cabelo,
Passei pó na cara,
e entre minhas entranhas sempre ressoava a mesma palavra
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Neeegra!
Até que um dia que retrocedia , retrocedia e que ia cair
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra!
E daí?
E daí?
Negra!
Sim
Negra!
Sou
Negra!
Negra
Negra!
Negra sou
Negra!
Sim
Negra!
Sou
Negra!
Negra
Negra!
Negra sou
De hoje em diante não quero
alisar meu cabelo
Não quero
E vou rir daqueles,
que por evitar – segundo eles –
que por evitar-nos algum disabor
Chamam aos negros de gente de cor
E de que cor!
NEGRA
E como soa lindo!
NEGRO
E que ritmo tem!
Negro Negro Negro Negro
Negro Negro Negro Negro
Negro Negro Negro Negro
Negro Negro Negro
Afinal
Afinal compreendi
AFINAL
Já não retrocedo
AFINAL
E avanço segura
AFINAL
Avanço e espero
AFINAL
E bendigo aos céus porque quis Deus
que negro azeviche fosse minha cor
E já compreendi
AFINAL
Já tenho a chave!
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
NEGRO NEGRO
Negra sou!

O que você achou do poema? O que achou importante e significativo no decorrer da história que ele narra? Como os discursos que circulam na mídia, nas falas das pessoas influenciam e tolhem a liberdade de se vestir, de se assumir? No decorrer do poema, Victoria assume sua cor, raça e  afirma que "de hoje em diante não quero alisar meu cabelo" e que "negra, soa como lindo"
Se você quiser saber mais um pouquinho da Lei 11.645/08 e algumas dicas de como trabalhá-la achei um blog bem interessante, compartilhei o link, acesse.
http://seguindopassoshistoria.blogspot.com.br/2011/09/lei-11645-e-o-ensino-indigena.html
Aguarde que vamos trazer algumas dicas da TV Escola sobre o tema.

Nenhum comentário: